terça-feira, 30 de junho de 2009

Honduras debaixo de fogo


Através do trabalho excepcional dos jornalistas da Telesur, pudemos conhecer a situação em Tegucigalpa, capital das Honduras. Ontem, milhares de manifestantes concentravam-se em frente à Casa Presidencial. De todo o país, chegavam hondurenhos decididos a reclamar o regresso de Manuel Zelaya, legítimo presidente, e a protestar contra o golpe de Estado dirigido pela oligarquia, conduzido pelos militares e protagonizado por Micheletti, entretanto ilegalmente empossado como presidente pela Assembleia Nacional.

Levantavam-se barricadas e juntava-se um mar de gente. Entretanto, chegavam reforços militares e a partir da tarde a situação ficou mais tensa. Sucederam-se as cargas, o lançamento de granadas de gás e os disparos. O exército tentava desbloquear as vias de acesso à Casa Presidencial mas sem sucesso. Nos avanços militares, houve vários feridos e um morto, atropelado por um camião das Forças Armadas. Jornalistas foram atingidos por balas de borracha. Camiões lançavam água sobre os manifestantes e tinta vermelha para que ficassem marcados e pudessem, posteriormente, ser identificados.

A equipa de reportagem da Telesur que transmitia em directo para todo o mundo, menos para as Honduras onde tem o sinal bloqueado, foi detida e levada por um grupo de militares. A coragem de uma jornalista em ligar para a redacção central em Caracas enquanto lhe tentavam tirar o telemóvel foi fundamental para enervar as chefias políticas e militares. Pouco tempo depois, foram libertados e seguiu um pedido de desculpa para a Embaixada da Venezuela. Aquela detenção havia sido um "erro".

Durante estes acontecimentos, reuniam vários chefes de Estado em Manágua, Nicarágua. As intervenções e as conclusões eram claras. Nenhum apoio e reconhecimento para os golpistas e toda a ajuda para Manuel Zelaya e o povo que resiste nas Honduras. Foram transcendentes as palavras de Hugo Chávez que se afirma cada vez mais com destaque na América Latina. Para o presidente da República Bolivariana da Venezuela, está bem claro que se as burguesias daquele continente optarem por afogar pela força processos democráticos que as põem em causa então os povos não terão qualquer dúvida em tomar as armas para os enfrentar. E citando uma frase que atribuiu a Kennedy afirmou que "os que fecham o caminho à revolução pacífica abrem o caminho à revolução violenta".

Hoje, o presidente hondurenho Manuel Zelaya segue para Washington onde tomará a palavra a partir da sede das Nações Unidas. E repetiu ontem que não deixará o seu povo a lutar sozinho nas Honduras. Na quinta-feira, segue com o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, e com qualquer chefe de Estado que se lhe queira juntar, para as Honduras.

Por cá, nada de novo. Depois da febre mediática sobre o Irão, ninguém parece muito interessado num golpe de Estado conduzido pela oligarquia e combatido pelo povo. Os meios de comunicação não dão qualquer importância ao que se passa nas Honduras e quando o fazem seguem a linha editorial de questionar as decisões políticas efectuadas pelo legítimo presidente Manuel Zelaya. Tentam passar a ideia de que este golpe de Estado quis repôr a legalidade e a democracia. A eles, acompanham-nos todos os políticos, comentadores e bloguistas que durante semanas andaram agitados com o Irão mas que agora se escondem no silêncio enquanto se prendem jornalistas, manifestantes, embaixadores, ministros, deputados. Enquanto se censura o trabalho dos jornalistas hondurenhos, enquanto se bloqueia a distribuição eléctrica, enquanto se impõe o recolher obrigatório à força das armas.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Honduras: últimas notícias

Fonte: AFP

Ontem à noite, milhares de pessoas desafiavam o recolher obrigatório decretado pelo presidente de facto, Micheletti, o golpista que assumiu o poder. Hoje, as Honduras assistem a uma paralisação nacional convocada pelas forças populares. Durante o dia de ontem, pudemos assistir pelas emissões da estação sul-americana Telesur às manifestações nas ruas de Tegucigalpa, capital das Honduras. Levantaram-se barricadas e exigiu-se o regresso do legitimo presidente Manuel Zelaya Rosales.

Recordemos que nas primeiras horas da manhã de ontem, militares encapuzados assaltaram a Casa Presidencial e sequestraram o chefe de Estado levando-o para a Costa Rica. Pouco depois, os militares ocuparam as ruas e tomaram os órgãos de comunicação social. A electricidade foi cortada e o sinal dos canais internacionais bloqueado. Entretanto, sequestraram a ministra hondurenha dos Negócios Estrangeiros e os embaixadores de Cuba, Venezuela e Nicarágua que a protegiam. Todos foram agredidos. Patrícia Rodas foi expulsa do país encontrando-se no México. Os embaixadores regressaram aos seus postos.

A OEA marcou uma reunião de emergência e condenou os acontecimentos nas Honduras. De resto, esta foi a tónica do dia. Nenhum Estado no mundo reconheceu Micheletti como presidente. A UE e os Estados Unidos condenaram o golpe de Estado. Mas na Assembleia Nacional hondurenha ergueu-se uma farsa para eleger Micheletti. Com uma falsa carta de demissão de Manuel Zelaya, os golpistas reclamaram ter legitimidade para tomar o poder e negaram estar a levar a cabo um golpe de Estado.

Às 18 horas, apagava-se o sinal clandestino da Rádio Globo Honduras. Às 19 horas, começava o recolher obrigatório que os manifestantes se recusaram a cumprir. Na vizinha Nicarágua, os chefes de Estado da Alternativa Bolivariana para as Américas reuniram com a presença de Manuel Zelaya e apelaram à resposta do povo hondurenho.

Apesar da condenação geral do golpe de Estado, os meios de comunicação insinuam e dão a entender que não foi um golpe mas uma detenção amparada na lei e repetem a mentira de que Manuel Zelaya queria perpetuar-se no poder. Público, Diário de Notícias e Sol acompanham a tendência geral dos órgãos da burguesia e mostram a sua perspectiva "democrática" dos acontecimentos.

domingo, 28 de junho de 2009

Apelo a todos os blogues! Solidariedade com o povo hondurenho!

Pedimos a todos os blogues que se unam à solidariedade com o povo hondurenho e que ajudem a romper o bloqueio informativo sobre o que se passa naquele país. Publiquemos este comunicado e divulguemo-lo entre os blogues amigos. Alerta que caminha a espada de Bolívar pela América Latina!

Este blogue condena o golpe de Estado nas Honduras e solidariza-se com o povo hondurenho e com o legitimo presidente Manuel Zelaya. Nesta madrugada, um grupo de militares golpistas invadiu a Casa Presidencial e sequestraram o presidente daquele país. A ministra hondurenha dos Negócios Estrangeiros e os embaixadores de Cuba, da Venezuela e da Nicarágua foram sequestrados à margem da convenção internacional que protege e dá imunidade aos diplomatas. Os militares ocuparam as ruas e avenidas das Honduras. Ocuparam os meios de comunicação social e cortaram a distribuição de electricidade.

Esta foi a resposta da oligarquia à vontade do governo de convocar uma consulta popular para abrir uma Assembleia Constituinte que tomasse o povo hondurenho como protagonista da sua própria história. Manuel Zelaya pagou o preço de ter decidido seguir o caminho de uma verdadeira democracia. O golpe de Estado é tão ilegítimo que a Organização dos Estados Americanos e a União Europeia já condenaram aquela acção. Manuel Zelaya foi eleito pelo povo hondurenho em 2005 e o seu mandato termina no próximo ano.

Todos recordamos o golpe de Estado contra Salvador Allende e o povo chileno. Os militares liderados por Pinochet e pela CIA afogaram o Chile em sangue. Todos recordamos o golpe de Estado executado pela oligarquia venezuelana com o apoio do imperialismo contra Hugo Chávez e o processo bolivariano. Foi derrotado pela acção do povo venezuelano. E esse exemplo ecoou por todos os países da América Latina que nestes últimos dez anos decidiram segui-lo.

Portanto:

1. Exigimos o respeito pelo mandato do presidente Manuel Zelaya
2. Respeito pela vida e liberdade do governo, de todos os seus apoiantes e dos diplomatas
3. Respeito pela decisão de abrir um processo de consulta popular para constituir um referendo para constituir uma Assembleia Constituinte
4. Um apelo a que os militares estejam do lado do povo, do governo por ele eleito e não do lado da oligarquia e do imperialismo
5. Um apelo à unidade latino-americana em torno de processos democráticas que tenham os povos no centro do poder
6. Que o governo português condene de forma clara o golpe de Estado
7. Que a comunicação social portuguesa apresente as informações sobre os acontecimentos nas Honduras de uma forma objectiva

Urgente: Sequestros de embaixores e de ministra

Acabam de informar na reunião de emergência da Organização de Estados Americanos que os militares golpistas hondurenhos sequestraram os embaixadores de Cuba, Venezuela e Nicarágua assim como a ministra hondurenha dos Negócios Estrangeiros. Há informações de que foram agredidos. Há pouco, falava em directo o presidente Manuel Zelaya do aeroporto de San José, capital da Costa Rica, que contava como foi sequestrado durante a madrugada durante um assalto militar à casa presidencial onde se encontrava a dormir. Foi ameaçado de morte e levado em pijama para a Costa Rica. Todas as informações em directo nesta ligação: http://www.telesurtv.net/noticias/canal/senalenvivo.php

Urgente: Presidente das Honduras sequestrado/Confrontos nas ruas

Manuel Zelaya e Fidel Castro

Manuel Zelaya, presidente das Honduras, foi sequestrado esta manhã na capital do país Tegucigalpa por militares encapuzados. O detenção ilegal deu-se uma hora antes da abertura das urnas no dia em que o povo hondurenho ia decidir se queria ou não uma nova constituição. Neste momento, há escaramuças nas ruas da capital. O canal público apelou à mobilização popular para junto da residência presidencial. Não se sabe onde se encontra Manuel Zelaya.

Há algumas semanas, o presidente das Honduras havia sido alvo de um atentado do qual saiu ileso. Entretanto, teve de destituir o chefe do Estado Maior das Forças Armadas por desobediência. Há vários dias que se alertava para um golpe de Estado em curso. Fidel Castro e Hugo Chávez solidarizaram-se prontamente com Manuel Zelaya. A Organização de Estados Americanos havia acordado enviar uma comissão para investigar os factos.

Manuel Zelaya Rosales foi eleito em 2005. Foi apoiado pelo Partido Liberal mas a meio do mandato dá um volte-face na sua orientação política e decide seguir uma linha de esquerda e socialista. Entretanto, aproxima-se de Hugo Chávez e de Daniel Ortega. No final de 2007, mostra interesse em integrar a Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA).

Nos últimos meses, mostrou interesse em convocar uma consulta popular para estabelecer uma Assembleia Constituinte que elaborasse uma nova Carta Magna. Sofreu um atentado e na última semana o chefe do Estado Maior das Forças Armadas recusou-se a dar a ordem de distribuir o material eleitoral para que se efectuasse este domingo a consulta popular. Manuel Zelaya destituiu-o e denunciou um golpe de Estado em curso.

Nota: A Organização de Estados Americanos e a União Europeia já condenaram o golpe de Estado e pedem um regresso à ordem constitucional. Agora, esperamos a declaração de Barack Obama. Segundo informações veiculadas pela Telesur, o presidente Manuel Zelaya foi transportado para a Costa Rica.

Chávez e a cobertura da morte de Michael Jackson


Hugo Chávez critica a cobertura excessiva dos media sobre a morte de Michael Jackson enquanto se passam graves acontecimentos nas Honduras que não são noticiados.

sábado, 27 de junho de 2009

Dez livros. Dez lutas.

Para este fim-de-semana, a Rádio Moscovo propõe dez livros sobre acontecimentos passados e actuais da América Latina, sem qualquer distinção de género. São reflexões, reportagens, ficções mas são também dez lições. Porque delas podemos extrair importantes experiências e ensinamentos. Aqui fica a nossa sugestão:

- Fidel Castro, Biografia a duas vozes (Ignacio Ramonet). Publicado em 2006. Durante cerca de cem horas, Ramonet entrevista o comandante da revolução cubana. Um livro que percorre todos os momentos importantes da vida de Fidel e, principalmente, de Cuba. Está à venda em Portugal.

- As veias abertas da América Latina (Eduardo Galeano). Publicado em 1971, este livro alcançou rapidamente as prateleiras de milhares de revolucionários. Uma visão impactante da história da América Latina desde a chegada de Cristovão Colombo até aos anos 70. Podemos compreender o papel do colonialismo e do imperialismo na subjugação dos povos e no enriquecimento das potências mundiais. Está à venda em Portugal.

- México Insurrecto (John Reed). A primeira grande obra do jornalista comunista norte-americano foca a revolução mexicana no inicio do século XX. John Reed parte com as tropas de Pancho Villa e não hesita em largar a sua máquina de escrever e pegar numa espingarda quando se vê perseguido pelos inimigos da revolução. Publicado pela editorial «Avante!».

- As guerrilhas contemporâneas na América Latina (Alberto Prieto). Publicado em 2007, pela editora progressista Ocean Sur, o livro daquele que foi o chefe do Departamento de História da Universidade de Havana entre 1995 e 1998, como o título indica, debruça-se sobre as organizações guerrilheiras desde o levantamento dos nicaraguenses sob a direcção de Augusto César Sandino até à actualidade, onde se insere as FARC e o ELN. Mas entre Sandino e a actualidade percorrem-se importantes momentos históricos como a luta guerrilheira em Cuba, na Nicarágua, na Guatemala, em El Salvador. Também se destaca os movimentos armados na Venezuela, Argentina, Uruguai, Brasil e Peru. Não está publicado em Portugal. A versão original encontra-se à venda no site da Ocean Sur.

- Os subterrâneos da liberdade (Jorge Amado). Uma importante obra de ficção inserida no contexto neo-realista e que descreve a luta dos militantes comunistas brasileiros durante a ditadura nos anos 30. Provavelmente, um dos maiores trabalhos de Jorge Amado. Composto por uma trilogia: Os ásperos tempos, Agonia da noite e A luz no túnel. Merecia uma reedição em Portugal. Infelizmente, há grande dificuldade em encontra-lo sem ser na internet.

- Guerra ou paz na Colômbia? (Carlos Lozano Guillén). Um livro escrito pelo director do semanário do Partido Comunista Colombiano e que constitui "um importante contributo à discussão sobre o conflito interno" daquele país. É uma importante análise sobre o que se passa actualmente na Colômbia. Igualmente publicado pela Ocean Sur.

- Manuel Marulanda Vélez, o herói insurgente da Colômbia de Bolívar (obra colectiva). É uma compilação de textos sobre a vida do histórico comandante das FARC. Entre os vários contributos e testemunhos, encontra-se o do actual comandante Alfonso Cano, do comandante Ivan Márquez, do presidente da Coordenadora Continental Bolivariana Narciso Isa Conde, entre outros. Edição, provavelmente, clandestina.

- Colômbia e as FARC-EP, Origem da luta guerrilheira (Luis Alberto Matta Aldana). Um livro que segue a vida dos primeiros anos daquela organização através das vivências do guerrilheiro Jaime Guaraca. É um testemunho na primeira pessoa com a edição do escritor Matta Aldana. Muito importante para se compreender o surgimento das FARC. Não está publicado em Portugal. Mas há uma edição em castelhano na editora basca Txalaparta.

- Confesso que vivi (Pablo Neruda). A autobiografia de um dos maiores poetas que a classe trabalhadora teve ao seu lado. Percorrendo a vida do escritor chileno, viajamos por todos os lugares por onde passou como diplomata e intelectual. Mas acima de tudo através da perspectiva de um militante comunista. Em Portugal está publicado pela Europa América.

- América Latina entre séculos (Roberto Regalado). Escrito pelo chefe da secção de análise da Área da América do Departamento de Relações Internacionais do Comité Central do Partido Comunista de Cuba. Uma importante reflexão sobre o actual contexto político e social latino-americano e síntese dos grandes debates que se travam na esquerda daquele continente com abordagem das experiências dos últimos 50 anos. Publicado também pela Ocean Sur.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Thriller de Michael Jackson versão PSD


Pronto, confirma-se a morte de Michael Jackson. Aqui fica um excelente trabalho d'Os Contemporâneos. O famoso Thriller do cantor norte-americano versão PSD. Muito bom.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Mousavi, o homem de quem todos falam

Provavelmente, já estranhavam não haver nada publicado na Rádio Moscovo sobre o fenómeno político internacional do momento. O Irão ocupa manchetes, abre telejornais e boletins noticiosos de rádio. Mas não só. Gigantes da internet, como o Facebook, Youtube e o Twitter, fazem permanentemente campanha contra Ahmadinejad. Estados Unidos e Inglaterra recusam ter qualquer influência nos protestos que enchem as ruas de Teerão. E Mousavi, o candidato opositor que reclama fraude nas eleições, é o homem do momento. Vamos conhece-lo melhor.

Mir Hossein Mousavi Khameneh foi primeiro-ministro do Irão durante a guerra com o Iraque (1981-1989). No seu curriculum, destaca-se o feito de ter ordenado a matança de milhares de presos políticos. Foi durante o seu mandato que partidos e organizações políticas, sindicatos, organizações femininas, entre outras, foram perseguidos assim como os seus membros - milhares deles, jovens estudantes de institutos e universidades - detidos, torturados e executados. Trata-se da maior matança da história contemporânea do Irão. Entre as vitimas, 53 membros do Comité Executivo do Partido Comunista, o Tudeh, dos quais quatro haviam passado 25 anos da sua vida nas prisões do Xá. Poetas, escritores, professores universitários, profissionais de medicina, dezenas de militares (entre eles o comandante em chefe das Forças Marítimas do Irão, o General Afzali, acusado de pertencer ao Partido Comunista), os principais representantes das minorias religiosas no parlamento (todos de esquerda) foram executados depois de sofrerem a tortura física e psicológica (como ser forçados a disparar na cabeça dos próprios camaradas). As reivindicações das minorias étnicas, que compõem cerca de 60 por cento da população, por uma autonomia administrativa foram duramente reprimidas e centenas de curdos e de turcomanos foram enforcados nas praças públicas. A magnitude da repressão política, religiosa, étnica e de género do regime islamista obrigou ao exilio de quatro milhões de pessoas no maior êxodo da história do país. Estima-se que cerca de trinta mil pessoas foram assassinadas em poucos meses em 1988.

Nota: Ontem, recebi um e-mail de um dirigente da Associação venezuelana de Solidariedade com a Bolívia. Nele vinha esta pequena biografia de Mir Houssein Mousavi. Tentei descobrir a fonte mas arrisquei colocar aqui o texto pela pertinência e importância do conteúdo, tendo absoluta confiança nas informações divulgadas pela organização venezuelana. Hoje, descobri que esta biografia está integrada num artigo de Alejandro Teitelbaum, advogado especialista em Direito Internacional. Podem lê-lo na integra aqui.

Autoeuropa: "acto de dignidade de classe"

A rejeição do pré-acordo laboral, na semana passada, “foi um acto de dignidade de classe dos trabalhadores, que não são manipuláveis nem foram influenciados por este ou por aquele e determinaram, cada um por si, o seu próprio voto”, sustentou Jerónimo de Sousa.

Para o secretário-geral do PCP, “toda essa ofensiva e mistificação visa esconder aquilo que é a questão de fundo: os salários dos trabalhadores da Autoeuropa pesam apenas cinco por cento dos custos de produção”.

De acordo com Jerónimo de Sousa, este pré-acordo “tinha implicações nos custos de 0,0 qualquer coisa” e, por outro lado, “não se entende como é que há redução da produção e se queira que os trabalhadores vão trabalhar ao sábado”.

“A votação que se verificou, de forma livre, responsável, dos trabalhadores, pressupõe que continue o diálogo, mas o que os trabalhadores quiseram dizer foi que basta de retirar direitos, de ser sempre os mesmos a pagar”, insistiu.

in Público

domingo, 21 de junho de 2009

Livorno regressa à Série A


"Berlusconi pezzo di merda!"

Para quem gosta de futebol, aqui fica uma boa notícia. O Livorno garantiu este fim-de-semana a presença, na próxima época, na Série A do Calcio. Depois de ter ganho ao Brescia por três bolas a zero, a festa encheu as ruas daquela cidade costeira. Para quem não conheça, o clube tem grandes tradições de esquerda e os adeptos são conhecidos pela sua postura antifascista. Aqui ficam os principais momentos do jogo.

Louça não quer regresso a Abril

Hoje, sai uma interessante entrevista com Francisco Louçã. O Correio da Manhã revela algumas das opiniões do líder do Bloco de Esquerda. Entre elas, ao ser perguntado se defendia o regresso ao tempo das nacionalizações de 1975, respondeu que não defende nenhum regresso ao passado, o passado ensinou-o muito "do que não deve ser feito e dos erros que têm de ser impedidos". Questionado sobre se gostaria de um dia ser primeiro-ministro respondeu que disputa a eleição "para a formação do governo". Para ser primeiro-ministro, pergunta-se-lhe. "Com certeza".

Quando a comunicação social dominante dá voz aos interesses do grande capital e tenta condicionar o processo eleitoral dando a entender que se trata de eleições para primeiro-ministro, Francisco Louçã alinha no jogo. Provavelmente embriagado com a rápida ascensão, esquece-se de que é uma eleição parlamentar e de que é o Presidente da República quem decide quem formará o governo. De qualquer forma, ficamos a saber que o líder do Bloco de Esquerda não conta com a Revolução de Abril como referência para o seu programa político.

Ainda há poucos meses, recordo de o ver numa reportagem televisiva desfilando nas comemorações da Revolução de Abril e referiu a sua condição de ex-preso político. Por curiosidade tentei saber um pouco mais da prisão de Francisco Louçã. Vim a descobrir que foi preso na Capela do Rato no dia 31 de Dezembro de 1972 e que foi libertado no dia 3 de Janeiro de 1973. E lembro-me sempre da história daquele camarada a quem perguntei se havia estado preso e me disse algo do género: "estive detido uns dias, nada de especial, nem se pode considerar prisão, seria uma ofensa a todos os que foram torturados e estiveram presos durante décadas".

sábado, 20 de junho de 2009

Canção com todos


No dia 5 de Setembro de 2003, milhares de pessoas encheram o Estádio Nacional do Chile. Cesar Isella cantou um dos mais bonitos hinos latino-americanos, a 'Canción con todos'. E todas as vozes o acompanharam em homenagem aos caídos naquele estádio, 30 anos antes, durante o golpe de Estado contra o governo democrático de Salvador Allende.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Golpistas europeus

Aí está. O reforço da direita nas eleições europeias conduz, de forma já esperada, a um dos episódios mais anti-democráticos da União Europeia: a ratificação do Tratado de Lisboa. Sem qualquer respeito pelos cidadãos que na Holanda, França e Irlanda votaram contra o documento de conteúdo constitucional, a União Europeia decide, a todo o custo, ceder a todas as exigências do governo irlandês para que convoque um novo referendo. O papel de Dublim nesta matéria é execrável mas não tão execrável como o papel de todos os países que se recusaram a ouvir os seus cidadãos. Esses nunca estarão à altura de governos como o da Venezuela que aceitou o resultado da sua consulta sobre uma reforma da constituição. Esses são os mesmos governos que condenaram a decisão do povo palestiniano de eleger o Hamas para o governo. Alguns desses governos reconheceram legitimidade governamental aos golpistas que na Venezuela derrubaram Hugo Chávez. Esses governos, entre os quais o português, são golpistas. Porque para eles a democracia só vale de vez em quando e quando ganham. Porque nas costas dos povos constroem uma Europa autoritária, ao serviço das grandes potências e do grande capital.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Cinco dedos, um punho!


Um filme histórico. Praticamente desconhecido em Portugal, foi produzido na República Democrática Alemã pelos estúdios da DEFA. Retrata a vida do dirigente comunista Ernst Thälmann. Deixo aqui uma pequena parte com legendas da Rádio Moscovo. Há coisas que são tão válidas hoje como há 80 anos. A luta é o único caminho.

Autoeuropa: solidariedade com os trabalhadores!

A Rádio Moscovo está solidária com os trabalhadores da Autoeuropa e com a sua luta pela defesa dos postos de trabalho com dignidade. Esta é uma situação que envolve mais de 3 mil trabalhadores directos, milhares de indirectos, mais as famílias de ambos. Ontem, como já aqui referimos, romperam com o pré-acordo que havia entre a Comissão de Trabalhadores (CT) e a direcção da empresa. Uma vez mais, a Autoeuropa apresenta a chantagem dos despedimentos e a deslocalização da produção como forma de aumentar a exploração. Conseguiram-no uma vez mas falharam a segunda. Mais de 1300 operários rejeitaram pagar a crise uma vez mais. Também foi a falência de uma forma de negociação muito acarinhada por António Chora (coordenador da CT e dirigente do Bloco de Esquerda). A anterior notícia que colocámos teve um número exponencial de visitas e foi bastante comentada.

Um trabalhador dizia: "o problema não é trabalhar, nunca foi. Nós ganhávamos 150 euros num sábado e passámos a ganhar menos de metade e agora querem nos obrigar a trabalhar num sábado por uma mão de quase nada. Dizem que vão reduzir os dias de trabalho este ano mas querem dois sábados este ano. Porquê? Pela primeira vez desde que estou nesta fábrica, e já são vários anos, os trabalhadores uniram-se contra os que no dia 12 de Junho ficaram em casa. É que se a votação tem sido nesse dia o não ganhava com 90% porque as pessoas que votaram sim nunca vão trabalhar um sábado de borla".

Logo a seguir, uma série de comentários a apelar à conciliação - repetindo a chantagem patronal - e irritados com a decisão dos trabalhadores. Este trabalhador, e muito bem, recordou as tiradas de Belmiro de Azevedo e insinuou que qualquer dia poderiam estar a "trabalhar sete dias por semana sem receber". No fundo, António Chora e o seu "novo sindicalismo" estão bem ao jeito de Belmiro de Azevedo quando diz que era "muito bom que houvesse cada vez mais discursos pró mobilidade" e que "os sindicatos também se habituem" à ideia de que é "indispensável que exista" mobilidade, uma vez que "sem actividade económica não pode haver emprego".

Do que toda esta gente gostaria, naturalmente, era que os trabalhadores portugueses aceitassem um aumento da exploração sob a desculpa da crise e da falta de trabalho. Como sempre, aproveitam os piores momentos para a chantagem. Quando os trabalhadores e as suas famílias sofrem, os empresários agitam o fantasma do desemprego porque sabem que é quando há menor poder de negociação. Contudo, repito, nunca os vi aumentar os salários quando não havia crise.

Trabalhadores da Autoeuropa rejeitam mais flexibilização

Os trabalhadores da Autoeuropa acabam de rejeitar por maioria o pré-acordo laboral que previa maior flexibilidade e que fora aprovado pela Comissão de Trabalhadores coordenada por António Chora. Este dirigente e ex-deputado do Bloco de Esquerda tinha sido apresentado como um exemplo de sindicalista moderno. Moderado e capaz de conciliar os interesses dos operários e dos patrões. Por diversas vezes, atacou violentamente a CGTP e o seu papel na Autoeuropa. Agora, certamente, virá a chantagem patronal. Culpabilizarão os operários e dirão que não quiseram fazer mais sacrificios. Mas quando a empresa estava no auge, não me recordo de ver os patrões a partilharem os lucros com quem os produziu.

Leiam aqui as mentiras e as ilusões pequeno-burguesas de António Chora:

"Os trabalhadores podem fazer alguns sacrifícios. A seguir à tempestade virá a bonança. O problema da Delphi e de outras empresas é que nem sequer se preocuparam em ter uma bonança." (António Chora)

"Os trabalhadores da Autoeuropa atingiram um grau de maturidade que falta noutros casos?" (jornalista) Estão é mais bem informados. Não só por parte da empresa, mas também por parte da Comissão de Trabalhadores. Isso mostra aos trabalhadores que vale a pena fazer agora alguns sacrifícios, para manter o emprego amanhã" (António Chora)

Kepa Junkera vem a Lisboa


O músico e compositor basco Kepa Junkera vem a Lisboa no dia 6 de Junho. O mestre da trikitixa, acordeão diatónico tradicional do País Basco, traz o folclore daquele povo ao S. Jorge. Deixamos aqui uma canção que não é totalmente elucidativa dos trabalhos de Kepa Junkera mas que ilustra o espírito festivo com que vive o povo basco. Nos próximos meses, aldeias, vilas e cidades vão encher-se de música e, certamente, de luta. Este vídeo que apresentamos é do hino da grande festa que se realiza em Bilbau no fim de Agosto. Milhares e milhares de pessoas abarrotam o centro histórico da cidade. Há barracas decoradas com signos culturais e políticos de Euskal Herria. Ali, serve-se comida, bebida e vende-se material político como t-shirts, cd's, cartazes, bandeiras, etc. Em cada esquina, há um concerto a acontecer e a festa parece que nunca acaba. Às oito da manhã, quando vamos dormir um pouco, já as ruas se enchem para assistir aos desportos tradicionais. E como estas festas têm sempre um forte cunho independentista e de esquerda, a repressão do Estado espanhol não deixa de se fazer sentir.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A crise da esquerda em Itália

Partigiani, guerrilheiros italianos em Turim

O primeiro-ministro Silvio Berlusconi esteve envolvido num caso escaldante com uma menor napolitana? Este é o grande escândalo que agita Itália. Provavelmente, nunca o saberemos, apesar das fotografias com dezenas de jovens em topless na sua casa na Sardenha. Mas temos factos de que algo muito mais grave e com piores consequências para os trabalhadores italianos se está a passar. Para além das perseguições, agressões e homicidios contra imigrantes, das recentes patrulhas que vigiam as ruas com a farda fascista, da saudação romana, comummente conhecida como saudação nazi, feita pela ministra italiana do Turismo numa cerimónia oficial, não há esquerda parlamentar. Nem sequer social-democracia.

Diz-se que ali houve um dia o Partido Comunista mais forte da Europa Ocidental. Um partido que teve na sua organização mais de dois milhões de membros e que atingiu várias vezes os 30 por cento em outras tantas eleições. Que assumiu um papel fundamental na luta armada dos partigiani contra o nazi-fascismo e que deu um contributo importante para a cultura neo-realista através de grandes intelectuais. No fundo, a história italiana dos nossos dias é a história da derrota daquele partido.

De forma sucinta e demasiado breve, o Partido Comunista Italiano (PCI) começou por fazer demasiadas concessões à democracia burguesa. Depois, abraçou a corrente social-democrata do eurocomunismo. Em 1991, depois do fim da União Soviética, abre o congresso do PCI. Quando terminam os trabalhos, é já um cadáver. Por maioria clara de 807 votos a favor, dava-se o último suspiro do gigante moribundo. Agora, passa a chamar-se Partido Democrático da Esquerda.

Entretanto, um grupo de membros não adere à nova formação política e lança o Movimento da Refundação Comunista. A seguir, funda o Partido da Redundação Comunista (PRC). Contudo, nunca deixaria de estar em crise e o máximo que consegue a nível eleitoral é 8,5 por cento dos votos nas eleições legislativas de 1996. Seguem-se as concessões e os pactos governamentais com o primeiro governo de Romano Prodi. De seguida, em 1998, dá-se uma cisão e surge o Partido dos Comunistas Italianos (PdCI).

Nenhum desses partidos rompeu com a linha do PCI. De uma ou de outra forma, prosseguiram as teses fundamentais do eurocomunismo, alimentaram as concessões à democracia burguesa e os pactos para participar em governos que em muitos casos atacavam direitos fundamentais dos trabalhadores e se lançavam nas guerras criadas pelo imperialismo. Não deixaram de acreditar que a União Europeia é uma estrutura reformável e humanizável. Provavelmente, como o capitalismo. Como consequência, a Refundação Comunista criou com outros partidos europeus o Partido da Esquerda Europeia. Uma estrutura onde participa não só o PCE e o PCF mas também organizações como o Bloco de Esquerda e o Synapismos grego.

Nas últimas eleições legislativas, depois de terem participado no governo de Romano Prodi, nenhum dos dois partidos conseguiu eleger qualquer deputado. Agrupados na coligação Esquerda Arco-Íris, onde até se discutiu a retirada da foice e do martelo da campanha, sofreram uma pesada derrota nas eleições em que Silvio Berlusconi foi eleito primeiro-ministro. Nestas eleições europeias, a coligação teve o nome de Lista Anticapitalista mas dos sete eurodeputados eleitos em 2004 não elegeu nenhum. Neste momento, para além de eleitos pontuais em certas autarquias, não existe esquerda em qualquer órgão de âmbito nacional.

Como se chegou a este ponto? No fundamental, parece-me, para além dos graves desvios em questões fundamentais que já aqui se descreveu de forma breve, a rejeição do leninismo foi, é e será sempre motivo para que a esquerda não compreenda como se deve e por que se deve organizar e lutar. Recordava algumas teses em que Jean Salem reuniu as ideias de Lénine acerca da revolução. Dizia que "os revolucionários não devem renunciar à luta pelas reformas" mas que "os grandes problemas dos povos nunca serão resolvidos senão pela força".

Certamente, há comunistas em Itália. Alguns estão organizados no PRC e no PdCI, muitos outros não estão organizados em qualquer partido. Uns acreditam ser possível reformar os existentes, os outros crêem necessário criar uma organização de raiz. Qualquer uma das soluções é difícil. Mas a classe trabalhadora italiana já deu no passado exemplos da sua coragem. Provavelmente, os tempos que aí vêm serão complicados. E nestas coisas há sempre mais dúvidas do que certezas. Mas há algo sempre certo: já falta menos um dia.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Como está Álvaro Cunhal?

Qualquer um que tenha viajado já experimentou esta estranha sensação. Normalmente, o pouco que os autóctones sabem de Portugal é sobre futebol. Recordo-me de um episódio em Marrocos onde crianças e adultos gritavam o nome de Luís Figo quando perceberam que éramos portugueses. Na Turquia, consegui ter uma conversa de hora e meia com um desconhecido que me falou sobre a amada, odiada pela família por ser muito mais velha, sobre a sua profissão e, claro, sobre o Benfica. À entrada da Síria, na fronteira, recebeu-nos com indiferença um homem vestido à civil sentado numa cadeira de praia. Sobre as pernas, uma kalashnikov e, nas mãos, uma revista. Mas quando viu o meu passaporte deu um salto e gritou: Cristiano Ronaldo! Não muito diferente daquele rapaz na insuspeita Venezuela onde todos adoram baseball e pouca importância dão ao futebol. Durante um concerto punk, bêbedo com rum Santa Teresa, conseguiu enumerar todos os clubes da primeira e da segunda divisão. Depois, secou os lábios, pôs-me o braço por cima do ombro e começou a entoar um dos cânticos do Benfica.

Recordo todos estes episódios porque aconteceu algo diferente em Cuba. Convidámos o nosso taxista para beber qualquer coisa e sentámo-nos numa esplanada de um bar numa qualquer localidade perto de Santa Clara. Explicou-nos que devido ao bloqueio o acesso à internet não é universal. Era um ávido leitor de jornais mas queria estar mais dentro da situação global. Recordo-me que das primeiras coisas que me perguntou foi sobre notícias da frente de guerra entre as FARC e o Estado colombiano. Passado um pouco, quando soube que era português perguntou: como está Álvaro Cunhal?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Herói da URSS eleito eurodeputado na Letónia

Compreende-se perfeitamente porque ninguém fala disto. Na Letónia, onde o Partido Comunista está proibido, Alfred Rubiks, herói da União Soviética, presidente da autarquia da capital em 1991 e secretário do Comité Central do PCL, foi eleito eurodeputado no passado dia 7 de Junho. Quando se deu o colapso dos países socialistas no Leste da Europa, Alfred Rubiks defendeu a URSS e a adesão livre e voluntária da República Letã contra os nacionalistas contra-revolucionários e fascistas. Foi, então, condenado a oito anos de prisão. Cumpriu seis enquanto o seu país era destruido pela contra-revolução apoiada pelo imperialismo europeu e norte-americano. Hoje, 21 por cento da população vive debaixo da linha de pobreza e a produção industrial caiu 22 por cento.

Alfred Rubiks é o actual presidente do Partido Socialista da Letónia já que o PCL foi ilegalizado. Encabeçou a coligação eleitoral "Centro de Unidade" que ficou em segundo lugar nas eleições para o Parlamento Europeu. Obteve 19, 53 por cento dos votos e em Riga 34 por cento. Estes resultados revelam a crescente rejeição das massas na Letónia, quer sejam russófonas, letãs ou de outras nacionalidades, contra a colonização do país pelo imperialismo. Pela sentença que recebeu, Alfred Rubiks não pode ser eleito no seu país - não pode exercer cargos públicos - mas à mínima abertura democrática o povo letão deu o exemplo.

Iñaki e Arturo: não à extradição!

Sabias que há mais de 700 presos políticos bascos em prisões espanholas e francesas? Sabias que há centenas de exilados e dezenas de deportados? Sabias que há desaparecidos como Jon Anza? Sabias que a ONU acusa anualmente o Estado espanhol de praticar a tortura para obter informações e reprimir? Sabias que Joxe Mari Sagardui está preso há mais de 28 anos, mais do que Nelson Mandela? Sabias que o Estado espanhol ilegalizou partidos, organizações juvenis, movimentos cívicos, jornais e rádios só porque apoiam a independência do País Basco?

Iñaki de Juana Chaos esteve preso durante 21 anos. Foi libertado em Agosto do ano passado. Depois de ter partido de férias com a família para a Irlanda, o Estado espanhol acusou-o de incitar ao terrorismo por uma carta que escreveu e que foi lida numa manifestação no País Basco.

Arturo 'Beñat' Villanueva, jovem independentista basco, foi detido em Março de 2001. Foi acusado de pertencer à organização juvenil Jarrai que havia, entretanto, sido ilegalizada pelo Estado espanhol. Dez meses depois, foi libertado esperando julgamento nessa condição. Provavelmente, seria condenado a 14 anos de prisão. Decidiu não participar na farsa judicial e procurou refúgio na Irlanda.

Nenhum dos dois cometeu outro crime que o de expressar as suas ideias. Ambos lutam contra a extradição pedida pelo Estado espanhol. Entre as leis internacionais, conta-se aquela que refere a não extradição para países onde haja o risco de tortura. Esperamos que seja cumprida.

Abaixo-assinado

* Nós, abaixo-assinados, exigimos que o governo espanhol respeite os direitos humanos, cívicos e políticos do povo basco como estão expressos na Declaração dos Direitos Humanos da ONU.

* Nós exigimos que o governo espanhol acabe a sua campanha de criminalização e de perseguição política contra organizações e indivíduos que são a favor da independência basca.

* Nós apoiamos o direito de Iñaki de Juana e de Arturo 'Beñat' Villanueva de não serem perseguidos pelo governo espanhola pelas suas ideias políticas.

* Nós apelamos ao governo britânico para rejeitar imediatamente os pedidos de extradição e para recusar colaborar com a perseguição política do governo espanhol a Iñaki de Juana e a Arturo 'Beñat' Villanueva.

* Nós apoiamos o direito de Iñaki de Juana e de Arturo 'Beñat' Villanueva de viverem livremente na Irlanda.

Assina a petição aqui!

sábado, 13 de junho de 2009

libertad para álvaro cunhal



cae en lisboa la tarde sin horas
melancólicamente para álvaro cunhal.
pero una doncella burla la vigilancia
con una bella paloma clandestina.

la paloma entiende la señal e canta
que la abran la jaula al tiempo.

la calle es tan bella, la calle portuguesa,
a pesar de que la comandan los carceleros.
dos horas para salir a la calle
con la palomita en la espalda
para el doctor álvaro cunhal.

la palomita canta que da gusto oirla.
la palomita levanta el puño
contra el carcelero y las cadenas...
y los caminos decididos responden en coro:
libertad y laureles para álvaro cunhal.

muchachas llenad la calle portuguesa
llevando la paloma en la espalda.

6 de septiembre de 1958

Sérgio Alves Moreira

sexta-feira, 12 de junho de 2009

O que é nacional é bom

Ontem, assistimos todos à exaltação patrioteira da contratação de Cristiano Ronaldo. Se é certo que por estes dias a vida nas redacções anda monótona isso não é razão para se cair no sentimento do "que é nacional é bom", como vinha no pacote de bolachas. O editorial de ontem do Diário de Notícias afirmava que "Barroso funciona para a imagem de Portugal moderno como Mourinho para a do futebol português. Ou seja, Portugal só tem a ganhar em ter um presidente da Comissão Europeia... mesmo que não tenha nada a ganhar com isso". Portanto, suponho que Portugal só tem a ganhar em ter o jogador mais caro do mundo...mesmo que não tenha nada a ganhar com isso.

O jornal El Mundo fazia comparações com aquilo que vale Cristiano Ronaldo. "Um boeing, dez mansões de luxo, duas estações de caminhos-de-ferro, um hospital com 200 camas, 30 carros de combate ou pagar bolsas de estudo a 12 por cento dos estudantes espanhóis durante um ano lectivo". E a Rádio Moscovo, naturalmente, pergunta: quantos trabalhadores são necessários para construir um boeing, dez mansões de luxo, duas estações de caminhos-de-ferro, um hospital com 200 camas ou 30 carros de combate? E quanto receberá cada um deles pelo suor do seu trabalho?

Pois, em tempos de uma grave crise que afecta duramente a classe trabalhadora há gente que se dá ao luxo de bater recordes deste tipo. O negócio do futebol é uma realidade suja. Está intimamente ligado ao tráfico de armas e drogas, à especulação imobiliária e, naturalmente, à lavagem de dinheiro. Mas igualmente suja é a moral destas vedetas broncas. Cristiano Ronaldo não deve a bronquice à sua origem humilde mas à forma como se move pelo mundo do futebol-espectáculo. Hoje, o jornal The Sun informa que o jogador português se embriagou em Los Angeles com Paris, a famosa herdeira da família Hilton que representa a decadência moral e a inutilidade da burguesia em todo o seu esplendor. Ronaldo, que deve o seu nome a Ronald Reagan, gastou a módica quantia de 17 mil euros em álcool.

Portanto, o editorial do Diário de Notícias tem a sua razão de ser. Portugal só tem a ganhar com o facto de Cristiano Ronaldo ser português...mesmo que não ganhe nada com isso. Nem que seja a chacota de sermos dos países mais pobres da Europa e de termos um tipo que dá uns chutos numa bola e que vai ser contratado a um preço que um vulgar trabalhador português só receberia se vivesse várias vidas a rebentar-se numa fábrica qualquer. No fundo, ganhamos tanto como com o facto de Durão Barroso ser português, de ter sido o anfitrião da Cimeira dos Açores e de ser o presidente da União Europeia. Porque o que é nacional é bom.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Cinco lutas. Cinco filmes.

Para quem não pode viajar por estes dias, a Rádio Moscovo volta a fazer uma proposta de cinema que representa diferentes lutas de diferentes países:

1. Estado de Sítio. Filme realizado por Costa-Gavras (Grécia) sobre a luta de libertação nacional dos Tupamaros no Uruguai. Retrata bem como funciona a CIA na formação das polícias e exércitos da América Latina promovendo os assassinatos políticos e a tortura.

2. Debaixo de Fogo. Filme realizado por Roger Spottiswoode (Estados Unidos) sobre a luta de libertação nacional conduzida pela FSLN na Nicarágua em 1979. Um fotojornalista norte-americano embrenha-se no conflito e põe-se do lado dos sandinistas.

3. O que é isso, companheiro? Filme realizado por Bruno Barreto (Brasil) sobre a luta do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) na década de 60. Um comando daquela organização armada decide raptar o embaixador norte-americano para o negociar na troca com presos políticos.

4. Hunger. Filme realizado por Steve McQueen (Inglaterra) sobre a greve de fome dos presos políticos do IRA. Foca sobretudo as seis últimas semanas de vida de Bobby Sands. Em 1981, 12 militantes do Exército Republicano Irlandês morreram neste protesto.

5. Guerrilheira. Documentário realizado por Frank Piasecki Poulsen (Dinamarca) sobre a vida nas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Retrata o percurso de uma estudante que decide entrar na guerrilha e a formação política e militar que recebe.

Prémio lambe-botas

Cavaco Silva condecora a UGT no dia de Portugal. João Proença já veio dizer que a condecoração é merecida. "Diria que a UGT merece essa condecoração pelo trabalho que tem desenvolvido na consolidação da democracia em Portugal, do diálogo e da concertação". Por cá, concordamos em absoluto com João Proença. Merecem, sim senhor.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sobe a direita na Europa e a esquerda em Portugal

Num primeiro comentário superficial, podemos afirmar que é assustadora a vaga de direita que se alastrou a toda a Europa. Em vários artigos, comentámos que a existência de uma grave crise económica não é por si só sinónimo de avanço das forças de esquerda. Pode e está a ser aproveitada de forma populista pela direita. Em Itália, apesar de todos os escândalos, Berlusconi esmaga toda a oposição. Mete dó um país onde existiu um dia o Partido Comunista mais forte da Europa Ocidental. No Estado espanhol, com grandes dificuldades, a Esquerda Unida consegue manter os seus dois eurodeputados. E, no País Basco, a Iniciativa Internacionalista alcança os 15 por cento apesar de não eleger qualquer candidato. Em França, ganha Sarkozy. Na Alemanha, a Merkel. Uma das poucas mas muito boa notícia é a subida do Partido Comunista da Grécia.

Contudo, em Portugal, a direita sofre uma grave derrota. Tanto o PS como o PSD perdem em votos e em percentagem. A CDU alcança o melhor resultado eleitoral em 15 anos e quase que elege a terceira candidata. Uma vez mais, como nas anteriores eleições, ficámos a poucos votos desse objectivo. Tudo isto depois de uma grande campanha eleitoral construída pelo esforço de milhares de activistas. E sem qualquer apoio da comunicação social. É aí que se alicerça fundamentalmente o resultado do BE. Sem estrutura nacional estável, são impensáveis alguns dos resultados que obtêm em determinadas zonas do pais sem o apoio incondicional dos jornais e das televisões.

Nos próximos dias, com toda a probabilidade, nascerá uma campanha com a ideia de que a CDU sofreu uma derrota ao ficar atrás do BE. Tentar-se-á escamotear o facto da CDU ter crescido em votos e em percentagem mantendo os dois deputados num cenário em que isso reflecte um crescimento devido à redução do número de eurodeputados portugueses. Tentar-se-á catapultar o BE como a grande força de esquerda para as legislativas.

Nota: Afinal, o Partido Comunista da Grécia desceu de 9,48 para 8,35 passando de três eurodeputados para dois (num contexto em que aquele país perde dois eurodeputados). Na Irlanda, o Sinn Féin sobe de 11,1 para 13,9. Em França, a Frente de Esquerda consegue uma ligeira subida. Em Itália, a Refundação e o PdCI descem. Na Alemanha, sobe o Die Linke. No Chipre, o Akel passa de 27,89 para 34,9.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Em quem votar?

Esta é uma pergunta pertinente nos dias que correm. As pessoas que a fazem podem dar-se por felizes. Se a fazem é porque conseguiram resistir à campanha dos partidos do sistema e da comunicação social contra a política e os políticos. Porque a esmagadora maioria repete a ideia de que são todos iguais e que só querem encher os bolsos. Senão, vejamos. O PS, o PSD, o CDS-PP e, já agora o PPM, participaram de forma mais ou menos activa na destruição das conquistas de Abril. Foram eles que durante as últimas três décadas deram voz aos interesses do capital. E são tão culpados que os eurodeputados do PS e do PSD estiveram de acordo em 93 por cento das vezes no Parlamento Europeu.

Agora montaram um interessante circo de variedades em que se degladeiam com toda a violência. Mas numa violência que não desfere qualquer golpe político. Porque no essencial são o mesmo. As duas faces do capitalismo português. Quando o PSD se afundou no lamaçal do BPN, Vital Moreira e o PS desataram à gargalhada. Para logo se calarem. Afinal, o e-mail de Abdool Vakil mostra como funcionam as coisas. É este o circo em que vivemos. Abdool Vakil, acusado há anos pela revista Visão de financiar o "terrorismo islâmico", dá uma mãozinha a uns e a outros. Que importa desde que o capital se mantenha intacto?

Mas isto é apenas a ponta do iceberg. Infelizmente, já poucos se lembram de que o PSD foi condenado a pagar uma multa por ter recebido um financiamento ilegal da Somague. Ou do "abandono" de Jorge Coelho da vida política para abraçar a generosa causa de conduzir os destinos da construtora Mota-Engil. E de todos os que de um ou de outro partido assumiram cargos de direcção em empresas de áreas em que antes haviam sido ministros ou secretários de Estado. Não é preciso ser-se jornalista ou investigador para chegar à clara conclusão de que tanto o PS como o PSD estão envolvidos em práticas ilegais ou nada éticas de promiscuidade entre o poder político e o poder económico. Em relação ao CDS-PP basta recordar o esquema dos submarinos e as famosas fotocópias tiradas à pressa.

Certamente que qualquer pessoa se revolta contra o actual estado de coisas e é levada a pensar que todos são iguais. Primeiro porque se não estivermos muito atentos parece que só existe o PS e o PSD e em segundo lugar porque a campanha mediática contra os políticos e os partidos é acompanhada pelo Bloco de Esquerda e por movimentos de origens muito duvidosas. Movimentos que em muitos dos casos apresentam as mesmas ideias que o PS e o PSD mas com roupagens diferentes. Laurinda Alves do Movimento Esperança Portugal admitia que concordava com a Constituição Europeia e que gostava de Durão Barroso e do seu trabalho. E Manuel Alegre que colaborou com a direita durante o processo revolucionário e grande ídolo das gentes da Rua da Palma já mostrou a sua verdadeira face. Um oportunista que vacila entre as opções que melhor lhe podem servir o ego.

É neste contexto que o trabalho dos eurodeputados da CDU, Ilda Figueiredo e Pedro Guerreiro, é desvalorizado e escondido nas gavetas das redacções. Não importa que se saiba que a CDU foi a que mais trabalhou no Parlamento Europeu. Não importa que se saiba que Miguel Portas do Bloco de Esquerda não foi mais do que um turista em Bruxelas. E não importa que se saiba - repito - que em 93 por cento das ocasiões PS e PSD estiveram de acordo. Mas não se trata apenas disto. Não se trata apenas do muito trabalho que se faz. Uma vez que não somos tecnocratas valorizamos o conteúdo das propostas apresentadas pela CDU e os protestos levados pelas bocas de Ilda Figueiredo, de Pedro Guerreiro e de Sérgio Ribeiro desde Portugal até Bruxelas.

Porque o nosso Partido não é um partido eleitoralista. Nas instituições apresentamo-nos trabalhadores e combativos. Levamos a voz dos sem voz e agitamos nas ruas por uma ruptura com o sistema capitalista. Não defendemos a reforma da União Europeia nem uma Constituição como o Bloco de Esquerda. Defendemos uma Europa de cooperação entre Estados iguais e soberanos. Uma Europa de progresso e de paz.

No domingo, teremos a oportunidade de levar a luta através do voto. E esse voto apenas será um voto combativo e consequente se for na CDU. Juntos teremos a oportunidade de provocar um terramoto político e de mostrar a todos os partidos do sistema que a hora deles chegou ao fim. Certamente que isso não passaria de um susto porque a verdadeira ruptura com o sistema capitalista não se desencadeará através de eleições. Contudo, dar mais força à CDU e ao Partido Comunista Português é também dar mais força à voz da classe trabalhadora nas instituições burguesas e, certamente, despertar e reforçar a consciência de muita gente. Porque depois das eleições lá estaremos no sítio do costume. Na rua, junto dos trabalhadores.

Até domingo há ainda algumas coisas que podemos fazer. Para além de participarmos na arruada que a CDU vai organizar amanhã às 17 horas no Largo Camões, no Chiado, podemos contactar todos os nossos colegas de trabalho, amigos e familiares. Através de conversas, de chamadas telefónicas, de mensagens por telemóvel, hi5 ou facebook, dos nossos blogues ou de e-mails podemos ainda convencer mais gente da importância de se votar na CDU.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

À memória de uma jovem pastora e contrabandista


Algures, nos confins de Portugal, existe uma região chamada Trás-os-Montes. Poucos de nós conhecemos esta zona cravada entre vales, serras e rios mas, ainda nos confins, desta terra de confins, existe uma aldeia isolada junto à Serra do Larouco. Santo André era, até há bem pouco tempo, baseada no trabalho comunitário. A população dividia as tarefas da comunidade, uns coziam o pão no forno comunitário, outros pastavam as ovelhas e as cabras de várias famílias. As encostas da montanha, uma das mais altas de Portugal, eram o palco do pastoreio de Santo André e das aldeias vizinhas. A Ana passou a infância e a adolescência a fazer o que mais a maravilhava: pastar a "rês", como os transmontanos e ela, com 83 anos, chamam. Sabia de cor o nome de cada animal e partia para as encostas frias do Larouco, onde no Inverno neva intensamente.

Para quem não conheça Santo André, actualmente, tem 271 habitantes. Segundo informações da Câmara Municipal de Montalegre "tem uma Igreja Paroquial do século XVIII, como a maioria das deste concelho, com um cruzeiro em frente, uma Capela privada, junto ao forno do povo, que é dos mais importantes e bem concebidos do mundo. A cidade de Grou é um castro na Raia, a caminho de Gironda [aldeia galega], ainda com grandes pedaços de muralha." É privilegiada pela fralda nascente do Larouco com toda a sua fertilidade e com as baixas encostas onde a vinha já cresce e toda a fruta amadura. Rebanhos e vezeiras fazem de Santo André terra de carne mimosa."

É, portanto, uma daquelas aldeias junto à fronteira com a Galiza. Basta atravessar-se o Larouco e estamos em solo galego. Compreende-se por isso a histórica relação entre galegos e transmontanos, a confluência entre dois povos esquecidos. A família da Ana dedicava-se ao pastoreio e à agricultura de subsistência. Mas não só. O seu pai, o seu avô, o seu bisavô e, provavelmente, as gerações anteriores passaram o negócio de contrabando de pais para filhos. Quando falamos de contrabando falamos de produtos que rareavam na época como o tabaco, o café, o cacau, carne, chocolate, etc. Falamos de uma época de grande pobreza em que, muitas vezes, a castanha assumia um papel fundamental na alimentação. Falamos de uma época atravessada pela I Guerra Mundial e pela Guerra Civil espanhola.

Quando era pequeno maravilhavam-me as suas histórias. Contava-me como tinha medo dos lobos que apareciam quando estava sozinha com a rês. Do frio e dos nevões que caíam. De quando apareceram os "soldados da Guarda Republicana" e tiveram de esconder o produto do contrabando. De como era das melhores alunas a escrever e a fazer contas. E de como não fez o exame final da quarta classe porque a família não tinha dinheiro para lhe comprar um vestido. De como o seu pai teve de andar meses fugido, nos campos de centeio, dos soldados da Guarda Republicana por ter recusado ir para a linha-da-frente em França combater numa guerra que desconhecia. De como anos depois a aldeia ajudou a esconder combatentes fugidos da Guerra Civil espanhola.

Há poucas semanas, voltámos a conversar sobre o assunto. Explicou-me que era hábito generalizado na aldeia esconder galegos fugidos da Guerra Civil. Perguntei-lhe pelos vermelhos. Disse-me que nunca conhecera nenhum mas que eram conhecidos como "rojos". Gente má, explicou. Pelo menos era o que se lhes dizia. Mas que nunca vira nenhum, repete. Perguntei-lhe quem eram os galegos que escondiam mas não me soube responder. Apenas soube explicar que era gente boa, gente muito boa. "Do campo como nós". E falou-me de um rapaz sapateiro de que todos gostavam e que acabou por regressar. Parece que foi fuzilado.

É então que lhe explico que, com muita probabilidade, entre os muitos galegos que por ali passaram, alguns deles eram vermelhos. Que do outro lado da raia estavam assassinos a soldo de um homem como o Salazar. Que vermelhos ou "rojos" era o nome que se dava aos que combatiam o fascismo. E que tal nome se lhes era atribuído dada a sua condição de comunistas. Homens e mulheres que defendiam um mundo de paz e de justiça. "Mas como podia ser o sapateiro "rojo" se era boa pessoa?", perguntou.

Esta é uma pergunta mil vezes repetida quando se toma contacto com os comunistas. Ontem, um conhecido explicava-me que desde que começara a trabalhar em carpintaria sentia uma forte ligação ao trabalho que faz e aos seus colegas. De súbito, as ideias do Partido começaram a fazer sentido na sua cabeça. Tinha ganho consciência da exploração a que eram submetidos e da injustiça que tudo aquilo traduzia. Provavelmente, a mesma conclusão que surgiu na cabeça de um sapateiro galego há quase um século. Uma ideia que incita à organização e à acção. À luta e ao combate.

Também hoje, anos volvidos, a manipulação ideológica com base na mentira leva à pergunta: mas como pode ser vermelho se é boa pessoa? Provavelmente, já ninguém acredita que comemos criancinhas ou que matamos velhos com uma agulha atrás da orelha mas basta abrir as páginas de um ou dois jornais para compreendermos que o tempo do preconceito anticomunista não morreu. Está bem vivo e promete crescer na medida em que cresça a força dos comunistas. Porque eles sabem de que lado está a superioridade moral. Que não está, certamente, do lado de quem explora e de quem promove a injustiça social.

A Ana nunca o compreenderá. Também não terá a oportunidade de viver num mundo de paz e de progresso. Da adolescência dedicada ao pastoreio e ao contrabando foi obrigada a migrar para a cidade. Daquelas terras povoadas de bruxas, curandeiros e superstições partiu para a Amadora. Aos 15 anos, servia em casa de gente rica. Casou-se com um camponês que, como ela, migrou para se tornar operário. A sua história é a história desconhecida de milhares de portugueses. Uma história que terminou hoje aos 83 anos e que contribuiu muito para aquilo que sou.

Obrigado.

Nota: "Comunitarismo – É uma vivência tradicional do povo de barroso. Nas mais diversas situações se nota a entreajuda e o partilhar de tarefas. Cito como exemplos o funcionamento do forno público que é «aquecido» semanalmente por uma vizinha, a quem chamam «cantadeira». Esta dá «as vezes», para cozerem depois dela, as pessoas que assim o quiserem.
- O rebanho, em que cada vizinho guarda os animais durante um número de dias proporcional ao número de animais que possuiu.
- O regadio, em que a vez de regar vai passando de casa em casa sequencialmente começando a 15 de Junho e acabando a 15 de Setembro.


- As malhadas tradicionais de ajuda mútua, assim como o arranque das batatas, a vindima e a matança do porco.
- O arranjo dos caminhos agrícolas, a limpeza dos poços da aldeia, o apagar dos incêndios, tanto na aldeia como nos montes, eram actividades que revelavam uma grande união, sendo as pessoas avisadas através do toque do sino." [in site da Junta de Freguesia de Santo André]